Se você procurar dipirona nos EUA, Estados Unidos, não vai encontrar. Isso porque ela é proibida por lá, assim como em outros países, como, por exemplo, Japão, Inglaterra e Suécia.
Em contraste, no Brasil, a dipirona é vendida livremente. Fica à total disposição dos compradores nas gôndolas das farmácias.
Aqui, ela não requer nem mesmo receita médica – é isenta de prescrição. Além disso, é largamente prescrita pelos médicos e amplamente utilizada nos hospitais.
Totalmente liberada em um país e totalmente proibida em outro. O que explica essa discrepância? E quais os motivos da proibição da dipirona nos EUA, Estados Unidos? É disso que se trata este artigo.
Embora proibida a dipirona nos EUA, aqui no Brasil, seu uso é muito difundido
O enorme número de produtos farmacêuticos que incluem dipirona na fórmula mostra o quanto seu uso é, de fato, difundido no Brasil.
Por acaso, você já reparou quantos produtos contém o analgésico dipirona na fórmula? Basta checar o nome dos princípios ativos que constam nas embalagens. Veja abaixo alguns exemplos.
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E estes são apenas alguns exemplos. De fato, uma infinidade de medicamentos, como analgésicos, relaxantes musculares e antigripais, contém dipirona. É possível que você tenha em casa vários deles.
Às vezes, ela é o único princípio ativo (fármaco) da fórmula do produto; outras vezes, ela se apresenta associada a outros fármacos.
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E por que o uso de dipirona no Brasil é tão amplamente disseminado? Porque ela é eficaz no alívio e controle da dor e da febre, tem baixo custo e ainda costuma ser bem tolerada por pessoas de todas as faixas etárias.
Além disso, nas doses indicadas, ela não costuma causar efeitos adversos, embora eventualmente possa provocar crises de hipotensão (pressão baixa) em alguns indivíduos.
Então, por que foi proibida a dipirona nos EUA, Estados Unidos?
O grande problema é que estudos científicos realizados há várias décadas mostraram que a dipirona pode ter efeito depressor sobre a medula óssea, causando, em consequência, anemia aplásica ou, sobretudo, agranulocitose1.
A medula óssea fica na parte interna dos nossos ossos, o tutano. É ali que são produzidas células sanguíneas: hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas.
Enquanto as hemácias (glóbulos vermelhos) são responsáveis por transportar o oxigênio por meio dos vasos sanguíneos para todo o nosso corpo, os leucócitos são as nossas células de defesa (glóbulos brancos). Eles nos defendem das infecções. Já as plaquetas são fundamentais para a coagulação do sangue.
A depressão da medula óssea, ocasionalmente provocada pela dipirona, pode causar redução do número dessas células, uma doença conhecida como anemia aplásica ou aplasia. Por meio desse mesmo mecanismo, a dipirona é então apontada como causadora, principalmente, de agranulocitose, que é a redução de certo tipo de leucócitos (glóbulos brancos).
Essas condições podem ser realmente graves e colocar a vida em risco.
Foi esse o motivo que, portanto, levou à proibição da dipirona nos EUA em 1977, decisão que persiste e vigora até hoje1.
A propósito, a bula da dipirona alerta sobre esses riscos.
Então, por que a dipirona é permitida no Brasil?
As pesquisas que apontaram a relação entre dipirona e depressão da medula óssea – especialmente, agranulocitose – indicaram que essa reação adversa é rara. Com base nesses estudos, as autoridades e especialistas brasileiros concluíram que a dipirona era mais segura do que outros medicamentos da mesma classe1.
Por exemplo, em 2008, foi publicado um grande estudo sobre agranulocitose. A pesquisa envolveu 548 milhões de pessoas da América Latina, entre as quais foram encontrados apenas 52 casos de agranulocitose1,2.
A análise dos dados realmente mostrou relação entre os casos de agranulocitose e o uso de dipirona, o que justifica a proibição da dipirona nos EUA. Por outro lado, confirmou que a ocorrência desse efeito adverso é muito rara.
De qualquer maneira, estes achados reforçam que medicamentos não são inofensivos. Mesmo os eventos raros podem ocorrer. Não é o tipo de loteria em que vale a pena apostar. Portanto, não abuse do uso de medicamentos.
Referências:
- 1. Guimarães et al. Política de proibição da dipirona: uma reflexão. Brazilian Journal of Health Review 2021;4(3):11007-11019. Disponível em https://doi.org/10.34119/bjhrv4n3-109
- 2.Hamerschlak N et al. Incidence and risk factors for agranulocytosis in Latin American countries -the Latin Study: a multicenter study. Eur J Clin Pharmacol 2008;64(9):921-9. Disponível em https://link.springer.com/article/10.1007/s00228-008-0513-7
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