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Reação adversa e evento adverso

Reação adversa e evento adverso

Reação adversa a um medicamento é qualquer efeito nocivo, não intencional e indesejado, que ocorre ocorre em doses consideradas normais, isto é, nas doses utilizadas dentro das faixas comumente indicadas. É assim que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) definiu esse termo1.

E por que essa definição é importante? Porque ela exclui do conceito de “reação adversa” certas situações, como as reações que ocorrem por uso de doses inferiores ou superiores às indicadas – como por exemplo, a overdose, acidental ou não2,3.

Essa definição conservadora evita superestimar a incidência de reação adversa2.

A reação adversa é um tipo de evento adverso

A reação adversa é classificada como um tipo de evento adverso. E o que é evento adverso? Considera-se evento adverso qualquer evento médico desfavorável que ocorre durante o uso do medicamento, mas que não é, necessariamente, causado por ele. Essa definição é dada pela ANVISA1.

Evento adverso é, portanto, um termo mais amplo do que reação adversa, que a engloba. Mas o que realmente diferencia estes dois termos? É o seguinte. Enquanto a reação adversa é um efeito que tem sempre probabilidade de ter sido causado pelo medicamento, o evento adverso inclui aqueles efeitos que não foram provocados pelo medicamento mas que ocorreram durante ou após seu uso.

O evento adverso inclui, portanto, as reações adversas mas também efeitos não decorrentes do uso do medicamento. O ponto em comum entre eles é o fato de ambos ocorrerem durante o uso do medicamento.

De acordo com a ANVISA1, são portanto eventos adversos situações como as suspeitas de reações adversas a medicamentos, e ainda outras circunstâncias. Entre elas, destacam-se as intoxicações e o abuso de medicamentos, os erros de medicação e as interações medicamentosas.

Estas últimas referem-se especialmente às associações entre medicamentos, isto é, o uso concomitante de medicamentos que não deveriam ser utilizados simultaneamente.

Por exemplo, o efeito dissulfiram-like, que se caracteriza como uma reação à interação de certos medicamentos com álcool é normalmente chamado de reação adversa. Porém, no contexto dos conceitos aqui discutidos, ele se enquadra mais como evento adverso. Isso porque o efeito dissulfiram, também chamado de antabuse, é resultante de uma interação medicamentosa, ou seja, de uma interação entre medicamentos e álcool.

Caso queira saber mais sobre esse assunto específico, leia o artigo que trata do efeito dissulfiram-like.

E por que a diferenciação entre esses dois termos?

Costuma-se dizer que tudo tem um motivo. E, de fato, há razões que justificam a necessidade de diferenciar reação de evento adverso. A separação desses dois conceitos não foi definida à toa.

Para me fazer entender, vou usar como exemplo um medicamento bastante popular, o captopril. Ele faz parte de um grupo de medicamentos indicados para controlar a pressão arterial. Trata-se, portanto, de um anti-hipertensivo, isto é, medicamento empregado no tratamento da pressão alta.

Mas, além de controlar a pressão, o captopril produz, com frequência, um outro efeito, que é indesejável. Ele costuma causar tosse. Sim, ele aumenta, no organismo, a quantidade de uma substância inflamatória, que se acumula nas vias respiratórias. Esse efeito adversoa (aumento da substância inflamatória) gera a reação adversa (tosse).

Repare que dificilmente uma pessoa relacionaria tosse com o uso de um medicamento para pressão alta. As pessoas costumam associar uma dor de estômago com o uso de um certo medicamento, mas não circunstâncias como tosse.

Esse é o ponto onde quero chegar. Nem sempre um certo efeito parece estar relacionado com o medicamento em uso.

Para isso, existe o conceito de evento adverso, que se refere tanto às reações adversas – que são aquelas ligadas a efeitos que você associa mais intuitivamente ao uso do medicamento – quanto àqueles eventos que não parecem ser decorrentes do uso do medicamento.

Essa observação é particularmente importante em estudos clínicos, em que os efeitos de um medicamento estão sendo estudados em pessoas. Também é crucial quando ele é novo no mercado e seus efeitos ainda estão sendo monitorados mais de perto.

Dessa forma, observa-se e registra-se como evento adverso qualquer evento que não parece estar relacionado com o uso daquele medicamento, ainda que tal evento seja inesperado e a relação com o medicamento remota.

Afinal, lá na frente, um efeito que a princípio parecia não estar relacionado com o medicamento em estudo, pode ser sim reconhecido como decorrente dele. Às vezes, leva tempo para que o reconhecimento da relação entre uma coisa e a outra ocorra. Daí a importância de se registrar os eventos adversos.

As reações e eventos adversos podem ter consequências graves

Tanto as reações quanto os eventos adversos podem ocasionar desfechos de grande gravidade. Esses incluem, por exemplo, situações como hospitalizações ou incapacidades decorrentes do uso do medicamento.

No artigo sobre o que é efeito colateral, cheguei a mencionar, como situação ilustrativa, a sonolência causada por certos antialérgicos. Vamos imaginar que uma pessoa idosa toma um desses antialérgicos. E então o medicamento lhe causa tontura e, em consequência, ela sofre uma queda que resulta em fratura do fêmur e internação hospitalar. Repare que, neste caso hipotético, o medicamento causou uma série de eventos adversos que geraram, inclusive, incapacidade. Isso porque, nesta situação, a vítima ficaria, pelo menos por algum tempo, incapacitada de conduzir sua vida normal.

Infelizmente, esse tipo de situação ocorre com mais frequência do que se imagina. Isso mostra o quanto é necessário evitar o uso indiscriminado de medicamentos. Eles não são produtos inofensivos.

Reação adversa e evento adverso não são o mesmo que efeito colateral

Assim como a reação adversa a um medicamento, o evento adverso também é uma resposta prejudicial, não intencional e indesejável. Dessa forma, ambos diferenciam-se de efeito colateral, conceito discutido no artigo anterior. Como já expliquei naquele artigo, o efeito colateral pode ser – eventualmente, é claro – benéfico e intencional (desejado). Se você ainda não leu, confira o artigo que esclarece o que é efeito colateral de medicamento.

O quadro a seguir resume certas diferenças entre esses três conceitos: efeito colateral, reação adversa e evento adverso.

Efeito colateralReação adversaEvento adverso
Às vezes, pode ser benéfico e intencional (desejado).É sempre prejudicial e não intencional (indesejado).É sempre prejudicial e não intencional (indesejado).
Refere-se aos efeitos normalmente causados pelo medicamento.Refere-se aos efeitos que têm probabilidade de terem sido causados pelo medicamento.Refere-se aos efeitos que têm probabilidade de terem sido causados pelo medicamento (como as reações adversas), bem como aqueles não causados pelo medicamento, mas que ocorreram durante o uso do mesmo.
Diferenças entre efeito colateral, reação adversa e evento adverso.

Nota:

a. Apesar desta estratégia didática de separar “efeito” de “reação”, estes termos não costumam ser diferenciados na literatura. O termo “efeito adverso” é, na verdade, frequentemente tratado como sinônimo de “reação adversa” ou ainda como um conceito mais amplo, que se refere a qualquer efeito indesejável. De qualquer modo, efeitos adversos a medicamentos são aqueles considerados nocivos e não intencionais.


Referências:

  1. ANVISA. Guia Regulatório – Glossário da Resolução RDC Nº04/2009. Disponível em http://antigo.anvisa.gov.br/documents/33868/2894051/Gloss%C3%A1rio+da+Resolu%C3%A7%C3%A3o+RDC+n%C2%BA+4%2C+de+10+de+fevereiro+de+2009/61110af5-1749-47b4-9d81-ea5c6c1f322a
  2. Singh et al. Adverse drug reaction policy in a tertiary care hospital. International Journal of Research Foundation of Hospital & Healthcare Administration 2015;3(1):41-47. Disponível em https://www.jrfhha.com/doi/JRFHHA/pdf/10.5005/jp-journals-10035-1035
  3. ASHP Guidelines on Adverse Drug Reaction Monitoring and Reporting. Am J Health-Syst Pharm. 2022;79:e83-89. Disponível em http://www.ashp.org/-/media/assets/policy-guidelines/docs/guidelines/adverse-drug-reaction-monitoring-reporting.pdf

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